É TRAÇA MAS NÃO TEM GRAÇA
A janela viu-se aberta
Já a noite se destapava quente
Entra a traça deslumbrada
Não tem quem a cumprimente
Vem de vôo obstinado
Só atrás de um filamento
E o meu sossego concentrado,
Interrompido bruscamente:
A lâmpada que sobrevoava
a minha cabeça idiota
(também eu sem corrente)
guinchava de pavor.
Era a traça, malcriada!
Num vaivénsurdecedor
(vais voar desta para melhor)
Não te quero doméstica
Não te quero nem pintada
Deixa-me o quarto e a cabeça,
que eu de ideias estou tão pobre
como de luz necessitada!
A luz então fez-se vidro.
Livremos O Fio Condutor!
Estou de pé, deixa comigo,
anda cá se és maior!
(apaguei a luz amarela,
somos só duas às cegas)
E agora lepidóptera?
desliguei-te o pólo norte,
cais no sul, desmagnetizada.
(O silêncio era então
o que se via
uma da outra)
Está ali a desordenada!
A respirar ofegante.
Não é tarde nem é cedo
vou surpreendê-la de rompan...!
que é dela?
...Percebeu a inconveniência.
Posso fechar a janela?
Voltei ao interruptor
Porque às claras é que eu estava
E como num filme de terror
Depois de um fim vem o susto
depois de um susto outro fim
A tola, atrás do incandescente
Sobe sôfrega, vorazmente
E tropeça-me no cabelo!
O zumbido no ouvido
Foi o fim desta discussão
Emprestei-lhe o quarto e a luz
Tentei um poema na escuridão.
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