O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

quinta-feira, maio 07, 2009

É TRAÇA MAS NÃO TEM GRAÇA


A janela viu-se aberta
Já a noite se destapava quente
Entra a traça deslumbrada
Não tem quem a cumprimente

Vem de vôo obstinado
Só atrás de um filamento
E o meu sossego concentrado,
Interrompido bruscamente:

A lâmpada que sobrevoava
a minha cabeça idiota
(também eu sem corrente)
guinchava de pavor.
Era a traça, malcriada!
Num vaivénsurdecedor

(vais voar desta para melhor)

Não te quero doméstica
Não te quero nem pintada
Deixa-me o quarto e a cabeça,
que eu de ideias estou tão pobre
como de luz necessitada!


A luz então fez-se vidro.
Livremos O Fio Condutor!
Estou de pé, deixa comigo,
anda cá se és maior!

(apaguei a luz amarela,
somos só duas às cegas)

E agora lepidóptera?
desliguei-te o pólo norte,
cais no sul, desmagnetizada.

(O silêncio era então
o que se via
uma da outra)

Está ali a desordenada!
A respirar ofegante.
Não é tarde nem é cedo
vou surpreendê-la de rompan...!


que é dela?



...Percebeu a inconveniência.
Posso fechar a janela?










Voltei ao interruptor
Porque às claras é que eu estava
E como num filme de terror
Depois de um fim vem o susto
depois de um susto outro fim
A tola, atrás do incandescente
Sobe sôfrega, vorazmente
E tropeça-me no cabelo!

O zumbido no ouvido
Foi o fim desta discussão
Emprestei-lhe o quarto e a luz
Tentei um poema na escuridão.