O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

terça-feira, dezembro 20, 2005

quadras soltas ao joão falcão

Comentário que o meu pai deixou aqui que merece ser publicado!
Ao tio João Falcão:

MILHAFRE, LINDO MILHAFRE
QUEM TE DERA SER FALCÃO
PODE FALTAR-TE O JUÍZO
NÃO TE FALTA A AMBIÇÃO

TENS IDEIAS MALUCAS
DESPROVIDAS DE RAZÃO
OLHA QUE ATÉ O PNEU SE ESVAZIA
SE NÃO ESTIVER À PRESSÃO

DEVES ATINAR NO QUE DIZES
PARA SUSCITAR ATENÇÃO
PEGA O PÚBLICO PELO VERBO
NÃO QUEIRAS SER CANASTRÃO

CONTAS ESTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS
OH, DITOSA SENSAÇÃO
LEMBRA-TE QUE A PALAVRA E O SENSO
SÃO BARAÇA E PEÃO

EVITA, POIS, CONTAR ESTÓRIAS
COMO AQUELA DA OPERAÇÃO
QUE TE RAPARAM TUDO O QUE É PELO
PELO SIM PELO NÃO

É DECERTO BEM SUSPEITO
O AFÃ E A PRECISÃO
RAPAREM-TE OS PELOS DO RABO
PARA OPERAREM ...O CORAÇÃO

MILHAFRE , LINDO MILHAFRE
QUEM TE DERA SER FALCÃO
PODE FALTAR-TE O JUÍZO
NÃO TE FALTA A AMBIÇÃO

segunda-feira, dezembro 19, 2005

parabéns avó

avó
não me fizeste biscoitos
nem me ensinaste a tricotar
mas entrelaças os dedos e ris-te
das trapalhadas das vidas da coqueluche
até adormecer com a cabeça para trás
gostas de andar a pé e levas-nos ao talho
(-...para vos mostrar!)
tens mil e uma carteiras e carteirinhas
porque a última não servia
...sabe-se lá porquê!
e até já soubeste falar francês
um dia
quando eu ainda não existia
e por isso nao sabia
o que viria a gostar de ti.

terça-feira, dezembro 13, 2005

poema do dia: "albertina" ou "o insecto-insulto" ou "o quotidiano recebido como mosca"



O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto que seja de beleza.

Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
Que tantas vezes arrastou pelos cabelos...

*
A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...

Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...

*
-Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!

-Albertina!,eu quero um verso que não há!...
*
Conjugal, provocante, moreno e azulado,
o insecto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.

E o poeta sai de chofre, por uns tempos desalmado...

Alexandre O'neill

segunda-feira, dezembro 05, 2005

chupa-chupas, chapéus de papel e camisolas foleiras


...mal posso esperar!