O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

terça-feira, março 03, 2009

VOCÊS JÁ SABÃO?

Fui encontrar, na garagem de um sujeito que tinha todo o ar de responsável (mas a responsabilidade tem ar?) um alguidar (!) a transbordar de gasolina. É uma linda esperteza, não acham? Dizem-me que as casas vendedoras de artigos de plástico têm feito, nesta relativa seca, um negócio de mão cheia. Até uma senhora minha conhecida está a constituir uma provisão de vaselina, que é um derivado do petróleo, como sabem. Os homens dos postos de de abastecimento de gasolina têm-me contado estórias de pasmar. Sujeitos que se abastecem e voltam à bicha para se reabastecerem; gorjetas que trepam aos cinquenta e cem escudos para comprar a «cegueira» dos empregados abastecedores, etc. Agora, parece, começou a tocar a vez aos sabões e sabonetes.


Onde iremos parar com este desandar?


Ao racionamento, está-se mesmo a ver. À redescoberta do piquenique no Monsanto. Aos acompanhamentos a pé do enterro desse morto que se chama Domingo (crianças saltitando à frente, pais bolinando atrás). Aos fogões de serradura, como no tempo da guerra. Ao mercado negro, claro. E também à praia de Algés.


Eu, por mim, já tenho planos de emergência. Retomo o eléctrico e a gáspea, o bagaço e a feijoada, o cobertor de papa pelos ombros e a leitura do Play Boy.


Faz-me é uma cívica tristeza saber que aqui ao meu lado comem e bebem do super e continuam a lavar-se com sabonetes finos todos os dias.


Mas espero, talvez com mais optimismo do que eles, o meu próximo electrocardiograma...




Alexandre O'neill,
Já Cá Não Está Quem Falou