O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

quinta-feira, janeiro 29, 2009



Não, não é o dente que dói.
Não, o motor não incomoda.

Não me doem os dentes
mas quem morde.

Nunca o que dói é o aparente
senão o outro, de outra ordem
o oculto na cárie da vida, o tártaro
dos ossos,
na intempérie incisiva da dentadura mole.

Nunca o que dói, doutor,
é o que fazem as máquinas,
senão
o humano dessas brocas
os buracos
da alma.

Ponha ouro, doutor,
e seja lá o que possa
morder o dente, ávido de amor,
a conta, ao fim, é nossa.

(outono de 2oo4)
Renata Pallottini