O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

sábado, maio 10, 2008

WORKING CLASS HERO

Ontem à noite fui a um sítio, e para esta história, não interessa qual. Interessa dizer, que quando fui para o tal sítio, ia eu mais a minha disposição e o meu temperamento. Factores que apesar de variarem, me acompanham sempre, independentemente de os sítios para onde, mesmo assim, queira ir. Daí, a total importância do meu estado emocional, das minhas preocupações e vontades, naquele momento. Posso dizer que não havia nada de novo nem extraordinário no meu estado de espírito até porque se tem manifestado persistente há algum tempo. O problema tem sido mesmo esse.
Se as nossas emoções forem um gás fluorescente efémero que transita e se esvaece dentro do nosso corpo (atenção que não estou a falar de puns), então eu tenho criado um recipiente, mesmo em cima do estômago, onde esse gás se move livremente, mas dentro do espaço a que está confinado. Um recipiente quentinho, silencioso e afável, ou seja, não se dá muito por ele, não chateia muito... e dessa maneira, não tenho que obrigar todos os outros meus órgãos a pensar demais no que fazer com aquele gás fluorescente.
Presume-se então que o meu gás emotivo de ontem à noite e de há uns tempos p'ra cá, não seja um composto de partículas de pureza hilariante...
O porquê também tem alguma importância. E é mais ou menos justificado como O Medo do Futuro. Do que está por vir. E de como o meu auto-conhecimento, me tem, até aqui, ajudado (ou não) a enfrentar determinadas novidades.
Mas ontem!
Estava eu no tal sítio, descansada. Sossegadinha. Contentinha. A fumar um cigarro à chuva. Quando ouvi um isqueiro clicar. Acendeu-se outro cigarro à chuva. Estava escuro como breu. Abri as pupilas, para receber mais informações acerca de quem o fumava.
... Era o Deus do Trabalho!
(Ora bolas, ... já?) Acho que fiz cara de medo, cara que faço muito bem quando dou de caras com Deuses. Mas eu antecipava este encontro com algum receio. O Deus do Trabalho não é um deus qualquer. Era o Deus que me ia pôr à prova, que ia sugerir que o meu corpo se mexesse finalmente no sentido ou direcção para a qual já me tinha encaminhado, que me ia confrontar com as minhas próprias capacidades, já que o caminho que escolhi foi este (acho eu, espera Ele). Quando o Deus do Trabalho chega, convém já termos algumas certezas. Não era o meu caso.
(E explicar isso a um Deus?)
- Pilar, chegou a tua hora. É favor de vires.
- ...ah! obrigadinha, mas não se incomode. Eu não sou certamente o que a Vossa Santidade procura. Mas tenho amigos que posso aconselhar.
- Pilar, chegou a TUA hora. Conversamos melhor na segunda-feira. Às 17h, é bom para ti?
O Deus do Trabalho estava a falar muito a sério e o seu cigarro já ia na metade. Olhei para a chuva a cair e imaginei a minha vida num lago de águas paradas a transformar-se num mar revolto. Também me imaginei, feliz, de ténis e óculos, num atelier ensolarado, a fazer rabiscos numa folha, com um grupo de inexperimentados a ouvir atentamente, de queixo no cotovelo. Logo a seguir, vi-me a fazer uma pergunta muito estúpida e o edifício todo a rir-se de mim.
Vou entrar n'A Máquina. A Máquina que faz o mundo girar (ou isso é o Amor?) Ainda ouvi uma música ao fundo:
When they've tortured and scared you for 20 odd years
then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear
Working Class Hero is something to be
mas prontamente respondi:
-Sim. Estou lá às 17h.
De cigarro fumado e descida à Terra justificada, o Deus do Trabalho desvaneceu-se na noite escura, não dando espaço a mais lamentações.
Yes , A Working Class Hero is something to be
If you want to be a hero well just follow me
Era pegar ou largar. Eu agarrei. Com as duas mãos.