O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

quinta-feira, maio 22, 2008

A SRA. T.

Diane Arbus
As sobrancelhas erguidas a meio da testa não eram de espanto. A Sra. T. quase nunca se espantava. Contavam-se pelos dedos de uma mão, situações que a apanharam desprevenida. A Sra. T. era senhora de matutar. E a quem cisma, pouco lhe escapa...
A perspicácia quase bruxa da senhora era dotada de um poder de observação fora do vulgar. Para a Sra. T., analisar os mais pequenos movimentos enérgicos das pessoas era um exercício divertido e que por ter sido praticado em toda a sua existência, a tinha dotado de altíssimos poderes divinatórios.
Não era, de todo, dada à conversa elementar e as poucas habilidades comunicativas e expressivas que deixava descobrir no seu rosto pendurado, serviam só para tirar proveito da bondade dos outros. Manifestações essas também usadas frequentemente pelos outros, os Normais, os educados seres falantes. Mas ela não desembolsava segundos num sorriso e era irónico perceber que os dias da Sra. T. dependiam da torrente de emoções que a circundavam: ora em conversas (raras) que alguém encetava com ela, ou conversas alheias, às quais prendia toda a sua atenção. Para eles, a Sra T. não passava de uma grandessíssima antipática, mal-encarada, anormalmente anti-social, patologicamente egocêntrica e o diabo-que-a-leve-a-mulher-assim-não-vai-longe! Mas contrariando os muitos agoiros, a mulher já estava no longe. E hoje, não variando, estava muito séria-circunspecta.