terça-feira, novembro 28, 2006
segunda-feira, novembro 27, 2006
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
Mário Cesariny
sábado, novembro 25, 2006
quinta-feira, novembro 23, 2006
segunda-feira, novembro 20, 2006
domingo, novembro 19, 2006
bundamel bundalis bundacor bundamor
j
j
j
j
j
Bundamel bundalis bundacor bundamor
bundalei bundalor bundanil bundapão
bunda de mil versões, pluribunda unibunda
bunda em flor, bunda em al
bunda lunar e sol
bundarrabil
Bunda maga e plural, bunda além do irreal
arquibunda selada em pauta de hermetismo
opalescente bun
incandescente bun
meigo favo escondido em tufos tenebrosos
a que não chega o enxofre da lascívia
e onde
a global palidez de zonas hiperbóreas
concentra a música incessante
do girabundo cósmico.
Bundaril bundilim bunda mais do que bunda
bunda mutante/renovante
que ao número acrescenta uma nova harmonia.
Vai seguindo e cantando e envolvendo de espasmo
o arco de triunfo, a ponte de suspiros
a torre de suícidio, a morte do Arpoador
bunditálix, bundífoda
bundamor bundamor bundamor bundamor.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, novembro 17, 2006
de madrugada e debruçada sobre a arquitectura
sjhsjsjkslkj
slkjsljsçjsçj
skljsçjsçkjsçj
eu deixo tudo p'ra mais tarde e tenho muito sono de manhã
hjgjhgkj
ljljljlj
ljlj
quarta-feira, novembro 15, 2006
um amor a contragosto
Poderá andar-se metido num amor a contragosto?
Claro que sim.
Um amor a contragosto é um amor em relação ao qual o sujeito que o sofre sabe/palpita que está numa perspectiva catastrófica e que, em princípio, nada pode fazer para evitar a catástrofe, que esta o espera no fim de tudo e se prepara para o mastigar sem contemplações, reduzindo-o a cisco.
«Reconquista-me!», diz o objecto desse amor a contragosto, entremostrando-se e furtando-se logo de seguida. E o sofrente do amor a contragosto compraz-se (afinal com imenso gosto!) em esfalfar-se e em arruinar-se nessa descida aos inferninhos do amor infeliz.
Como se chega - e para quê- a uma situação destas?
Por muitos caminhos e para muitos fins. Mas o que importa aqui dizer é que o amor a contragosto não é um amor partilhado. O sofrente nunca é igual a quem lhe inflige o sofrimento. É mais. Mais sentimento, mais tormento.
«Mas que figurões!», dirão as rãs que, na circunstância, sempre se juntam para fazer coro. É que eles - o sofrente e o que faz sofrer - não sabem que estão, na sua luta (assalto e defesa), a dar-se em espectáculo aos que, de fora e ainda por cima isentos, assistem a essa terrível devoração afectiva.
De um amor a contragosto dificilmente se sai. É como um vício arraigado, é como um redemoinho que puxa irresistivelmente para baixo.
Talvez a única maneira, como ensinam certos nadadores experimentados em águas traiçoeiras, seja o sofrente deixar-se ir até ao fundo e aí, com um golpe rápido de braços e de pernas, sair do medonho vórtice. Então, poderá voltar à superfície, nadar para terra, sentar-se na areia e dizer:
- Olha do que eu me safei! - O mundo recobrará cor e significado.
Quem estiver na situação de sofrente, metido num amor a contragosto, pode treinar este processo de salvação. A Caparica não é longe.
Alexandre O'neill
Claro que sim.
Um amor a contragosto é um amor em relação ao qual o sujeito que o sofre sabe/palpita que está numa perspectiva catastrófica e que, em princípio, nada pode fazer para evitar a catástrofe, que esta o espera no fim de tudo e se prepara para o mastigar sem contemplações, reduzindo-o a cisco.
«Reconquista-me!», diz o objecto desse amor a contragosto, entremostrando-se e furtando-se logo de seguida. E o sofrente do amor a contragosto compraz-se (afinal com imenso gosto!) em esfalfar-se e em arruinar-se nessa descida aos inferninhos do amor infeliz.
Como se chega - e para quê- a uma situação destas?
Por muitos caminhos e para muitos fins. Mas o que importa aqui dizer é que o amor a contragosto não é um amor partilhado. O sofrente nunca é igual a quem lhe inflige o sofrimento. É mais. Mais sentimento, mais tormento.
«Mas que figurões!», dirão as rãs que, na circunstância, sempre se juntam para fazer coro. É que eles - o sofrente e o que faz sofrer - não sabem que estão, na sua luta (assalto e defesa), a dar-se em espectáculo aos que, de fora e ainda por cima isentos, assistem a essa terrível devoração afectiva.
De um amor a contragosto dificilmente se sai. É como um vício arraigado, é como um redemoinho que puxa irresistivelmente para baixo.
Talvez a única maneira, como ensinam certos nadadores experimentados em águas traiçoeiras, seja o sofrente deixar-se ir até ao fundo e aí, com um golpe rápido de braços e de pernas, sair do medonho vórtice. Então, poderá voltar à superfície, nadar para terra, sentar-se na areia e dizer:
- Olha do que eu me safei! - O mundo recobrará cor e significado.
Quem estiver na situação de sofrente, metido num amor a contragosto, pode treinar este processo de salvação. A Caparica não é longe.
Alexandre O'neill
Uma Coisa em Forma de Assim
sábado, novembro 11, 2006
A Rapariga com Muitos Olhos
Um dia no jardim
fiquei muito espantado:
encontrei uma miúda
com olhos por todo o lado.
Era de facto encantadora
(e também assustadora!)
e, porque tinha boca para falar,
pusemo-nos a conversar.
Falámos sobre flores
e das suas aulas de poesia,
e dos problemas que teria
se tivesse miopia.
É óptimo namorar
alguém que tanto nos olha,
mas se desata a chorar
apanhamos uma molha.
A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Estórias
Tim Burton
quinta-feira, novembro 09, 2006
borboletas
Dia 11, às 12h inaugura o Lagartagis.
O Lagartagis é a primeira estufa aberta ao público destinada à criação de borboletas comuns da fauna europeia. A partir de 13 de Novembro o Lagartagis abre ao público todos os dias, das 10h às 17h, no Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural, na Rua da Escola Politécnica.
terça-feira, novembro 07, 2006
Cala a boca, Bárbara
Quando a vi pela primeira vez, no primeiro dia de aulas, usava o monstro das bolachas na t-shirt... Quando disse o seu nome, na chamada de presenças, todos percebemos que ela se chamava Florbela ou um desses nomes rebuscados; deve ter falado com a voz da noite anterior, porque ela de noite tem a voz mais grossa...
E no primeiro jantar de uma turma entusiasmada, disse-me assim: tens os olhos e o cabeuo buéda uocos! Passei a adorá-la e a partir daí achei que andando sempre ao lado dela ia ficar bem acostumada!
Quem me viu e quem me vê! Num instante fizemos a fusão galáctica e já andávamos a planear chatear muito toda a gente e ainda mais o Canhão, e o que é certo é que a aparição desta alminha trouxe algumas novidades na minha vida tão apagada... secalhar também é exagero contar que sem ela nunca teria bebido tampinhas de whisky numa missa, ou também não me teria apresentado ao Patrice de bikini com umas quantas gramas a mais... e quando me convenceu a vir mascarada de lixo do mar para a festa de anos dela, e eu fui a única na festa toda enfeitada?
Percebem porque é que toda a gente lá da escola gosta dela? É que ela solta a franga que há em nós, mas depois consegue ser muito bem sucedida com a opinião dos pais. Truque difícil. A minha mãe, coitada, já acha que devo por os olhos na Bárbara! Não me peças isso, mãe, para o teu benzinho...!
Ela é alucinada, desbaratinada, mas eu quero essa mulher assim mesmo!
Parabéns, flor bela! Mas este ano não sei se deva ir à tua festa de anos...
sábado, novembro 04, 2006
já sou tia
Deixou-se ficar só mais esta noite apertadinho na sua toca, e só chegou quando quis (tem génio)! Nasceu hoje de manhã, não vem cheio de cabelo, os olhinhos ainda mal abrem (por isso já se diz que são rasgados), as mãozinhas pequeninas, e herdou o meu nariz de tomada!
Bem-vindo ao Planeta Terra Lourenço!
quinta-feira, novembro 02, 2006
as paredes têm ouvidos
(uma conversa muito de amigas, à hora de almoço)
- tipo eu tou-me a cagar
tipo... eu entrava lá
tipo era minha pessoa
e uma turma
pá, e digo-te uma coisa
tu aqui encontras bué rivais
pá, mas há um limite
há um limite p'ra tudo
obviamente tens que vir
mas pá! tens uma turma!
não sei se tás a perceber a onda...
...não tens noção...
percebes?
mas olha... conta-me de ti
fala...!
*
(dois velhotes)
- aqui e ali encontramos um gajo porreiro...
- acontece, de vez em quando... uma vez na vida!
*
(uma atraiçoada, na casa de banho)
- na minha consideração ele desceu uns degrauzinhos...
p'ra não dizer a escadaria inteira!