O Meu Outro Eu Esteve A Dançar

domingo, julho 23, 2006

domingo



Aqui estão, espraiadas, as mulheres. Viram-se e reviram-se sobre as toalhas para bem se tisnarem por todos os lados. Trazem sacos e maridos para a areia. E os filhos. De repente, sentam-se. E gritam: Ó Luís Vítor, ó Bruno Manuel, ó Fernando Jorge, ó Mafalda Sofia, ó Joana Filipa! Maternais e enfastiadas, vigiam os pequenos. Ralham com os maridos como se estivessem a cantar uma canção de trabalho. Querem-nos à mão. Entram no mar pé ante pé. Quando a primeira onda lhes dá uma umbigada, soltam um bando de gritinhos. Afoitam-se, cabeça muito levantada para que a cabeleira não se molhe. E, então, começam a sorrir. Não há, nesse momento, quem as arranque do mar. Mas, com a muita, muita água, um pensamento indesejável assalta-lhes as imaginativas cabecinhas: o peixe que, do largo, pode vir, ligeiro, engolfar-se-lhes entre as coxas. Regressam às toalhas, aos guarda-sóis. Chamam, pelos seus nomes aos pares, os pares de crianças. Esbofeteiam-nas, beijam-nas, prodigalizam-lhes sanduíches de areia. Entretanto, os maridos foram dar uma volta. Mulheres! Afinal sempre sozinhas sob a rosa do sol...


Uma Coisa em Forma de Assim, Alexandre O'Neill.