uma terra muito líndia
Então passo a explicar: há um grupo de pessoas que vai todos os anos à Índia dedicar-lhes algum tempo, sorrisos e ajuda monetária para manter alguns projectos de pé... como por exemplo escolas não oficiais, centros de saúde, ou pessoas com destinos menos luminosos como é o caso de doentes com lepra, tuberculose e até as víuvas que são esquecidas e abandonadas numa sociedade que não valoriza os direitos humanos em pé de igualdade.
Há quase dois anos, num verão atribulado, recebi o convite da minha tia, que pertence a esse grupo há vários anos... Convite esse que, como ela prometia, me iria mostrar uma realidade mais atribulada que o meu verão tão escuro! E confiante de que a minha situação não iria piorar aceitei logo, até porque além de gostar muito de meter o nariz noutras culturas e noutras vidas, achei que esta seria uma oportunidade diferente e mais rica do que as que algum dia poderia vir a ter.
Que passei muita fomeca passei, que vi a vida a andar para trás quando apanhei uma febre mariquinhas...também vi... ! Mas claro que valeram a pena todos os sacrifícios inerentes à combinação de uma viagem destas com uma pessoa que até então estava habituada a canjinha quentinha nos momentos de aperto! Por lá, ainda tive macacos a roubarem-me impiedosamente a minha refeição do dia acabada de comprar; maçãs e bananas eram a alternativa aos pratos menos apetecíveis que serviam nos ashram's!! Sim porque não foi por falta de comida, mas umas incompatibilidadezinhas com pratos vegetarianos cheios de especiarias. Nem o arroz doce escapou! Foi o meu trauma na viagem ...a fome, como podem perceber!
Enfim, mas mais caril menos açafrão, a temporada lá se passou e alojou-se na minha memória para não sair mais. Às vezes lembro-me da Índia nas alturas mais despropositadas. O sinal vermelho dos semáforos tem escrito por cima RELAX, não vão os condutores desenfreados atropelar mais umas quantas vacas muito sagradas por dia. Mas parece que nem nas estradas inspiram o stress ...o camião quinar é prato do dia, dia esse que pode perfeitamente ser passado tendo o chassi como céu e o alcatrão quente como terra! E o esgotamento nervoso não lhes chega assim às primeiras, quando as cancelas de uma passagem de nível fecham, ninguém sabe se o comboio passará entre cinco ou trinta e cinco minutinhos... quando a electricidade vai abaixo para quê "sair do sereno"??
Serenidade foi o que as pessoas que eu conheci me conseguiram dar, não só os indianos, mas também os que foram comigo, bem permeáveis à novidade que esta outra realidade trazia...
O Tarum, um médico indiano que nos acompanhou sempre, traduziu-nos particularidades do mundo dele que dificilmente se traduzem e foi da sua boca, que o nome deste blog nasceu. Dificlimente também lho poderei traduzir algum dia, mas o encanto das coisas inexplicáveis ou que ficam por dizer faz sempre parte de uma troca qualquer de identidades.
Por isso gostava que aparecessem na exposição, e que lessem o que aquelas imagens vão ter para dizer. E caso vos ataque algum acesso de solidariedade, há souvenirs à venda que vos dão a oportunidade de poder fazer brilhar uma luzinha nas suas vidas ... e quem sabe talvez nas vossas!